As Crônicas de Artur – Bernard Cornwell
O Rei do inverno / O inimigo de deus / Excalibur
1.586 páginas sobre a “lenda” de Artur, aquele que nunca foi
rei
Para mim, é difícil tirar o “rei”. Sempre falei “O Rei Artur!”.
Quase toda a história foi alterada em meu imaginário.
Se resolver ler meu texto, saiba que não contarei o enredo
em si, mas farei observações gerais que podem conter spoilers, com base na
perspectiva e estudo de Cornwell.
1.
A história é narrada em 1.ª pessoa, por um
personagem fictício chamado Derfel que, ao meu ver, rouba a cena e ganha maior
destaque do que o próprio Artur. Cornwell torna Derfel muito mais interessante
do que o mote do livro, conta a história desse lanceiro deixando a de Artur
como plano de fundo. Saio da leitura conhecendo a história de um
novo personagem que construiu sua vida com base na fidelidade que tinha por
Artur.
2.
Artur, para mim, foi retratado como um herói
insosso, sem ambição... Sabe aquela personagem boazinha de novela? Aquela que
chega a irritar? A culpa é de Derfel.
Derfel constrói uma imagem de Artur que mantém a bravura,
a honestidade e as demais características atribuídas a um cavaleiro medieval,
mas não consegue nos mostrar sua alma. Foi como se eu conhecesse Derfel até às
tripas, mas Artur permaneceu um estranho.
3.
Guinevere foi uma personagem que provocou em mim
diversas reações. Tive que chegar ao volume 3 para reconhecer a construção
cultural machista que indiretamente havia em minha leitura. Guinevere cometeu
erros? Não a julgo mais. Perto de Guinevere, Artur é um fraco.
Fico feliz em relatar que consegui me policiar e deixar
essa deusa de cabelos vermelhos incendiar minha leitura no último volume.
4.
Merlin, Morgana e Nimue – núcleo principal no
quesito magia. Merlin foi uma surpresa. Mago ou charlatão? Qual a imagem que Cornwell
quis passar por meio da visão de Derfel? Existia a magia ou era somente conhecimento
atrelado à esperteza? Não sei.
Merlin era um velho egoísta e abusador. Morgana uma
mulher fraca e influenciável. Nimue foi a rocha. Novamente, se eu não estiver
enganada, Nimue figura uma nova personagem criada por Cornwell para contar a
história. Temos novamente um desvio do foco, ao meu ver. Queria saber de
Morgana, mas tive que acompanhar a Nimue. Embora seja uma excelente personagem,
não atendia as minhas expectativas de leitura.
5.
Lancelot foi um bosta.
A história em si é muito boa, recomendo. Porém, caso resolva
ler, precisa estar ciente de que lerá um texto bastante descritivo em relação
aos embates físicos. São batalhas e mais batalhas sendo descritas. Muitas
questões relacionadas ao adentramento do cristianismo na Britânia, também.
Sinceramente, colocando-me como alguém que não precisa
assumir passionalmente um lado, acho que Artur e Derfel foram dois cretinos em
relação ao Mordred e aos filhos de Artur. Eles eram responsáveis por cuidar do
rei Mordred, criá-lo, mas o tratavam como um ser indesejado, criaram-no sem
amor, ou seja, são responsáveis por seus defeitos de caráter e pelos fatos que
se desenrolaram. Artur de certa forma renega os próprios filhos por outra mulher.
Dane-se a época e o contexto! Herói é herói! Herói jamais abandona um filho!
Enfim, deixo a recomendação. É uma boa obra.
O DESTINO É INEXORÁVEL!
Merlin