10/03/2013 - Domingo - Concurso literário "A arte de contar e poetizar o pão"
Bom, alguns já devem estar cansados de me ouvir falar sobre isso, mas
há de se levar em consideração que o concurso ocorreu no ano passado e a
premiação só saiu agora, na última sexta-feira. Devido a isso o assunto
se estendeu. Bem, os que gostam de mim, não se cansarão, pois trata-se
de algo que me deixou feliz e realizada.
Vou contar como aconteceu....
Realizei um concurso de sonetos no colégio Ieda, portanto não consegui
participar da Olimpíada de Língua Portuguesa. Mesmo assim, resolvi ligar
para a Lúcia do Núcleo pedindo se ainda poderia enviar algumas
produções, pois gostaria de tentar. Ela me orientou que o tempo já havia
passado, mas que se eu quisesse poderia participar do concurso em
questão, sobre PÃO. Já havia recebido um e-mail em relação a ele, mas
não me atraiu muito, principalmente porque eu teria muito trabalho sem
premiação alguma para o professor.
Só que eu estava procurando algo pra fazer, uma vez que tenho o dom de
me entupir de projetos e boas inteções que nem sempre consigo realizar.
Resolvi tentar. Pedi permissão a Jussara (diretora) para imprimir o
regulamento e ela permitiu. Levei a proposta para sala de aula, com meus
três 9ºs anos, que particularmente não ficaram muito empolgados com a
temática.
Diante disso, percebi que minha primeira missão era despertar o
interesse, empolgá-los, chamar a atenção...Já comecei falando e alguns
devem lembrar que larguei logo de cara: "Negócio é o seguinte: eu só
entro em concurso para ganhar! Se espichem! Busco a melhor ideia, pois
erros ortográficos e etc, podemos resolver facilmente.".
Confesso que nem todos se empolgaram, muitos trataram o assunto como
mais um trabalho escolar (eu iria considerar como avaliação). Levei-os
para sala de informática, li o regulamento, retomei o que era um conto e
pedi que procurassem informações sobre PÃO. Falei que o tema era mais
do que o óbvio, que o pão tinha um valor simbólico imenso, importante
também para a economia e que deveríamos conhecer a história religiosa
que ele está inserido, mas que na hora de produzir teríamos que ter
cuidado para não previlegiar uma religião ou outra. Os alunos deveriam
elencar 15 ítens, no mínimo, que trouxessem informações interessantes
sobre o tema. Que essas informações fossem de alguma forma úteis na hora
da produção. Criei algumas hipóteses de histórias, de temas que
poderiam ser atrelados ao pão, enfim, iniciou-se o trabalho.
Quando a Rita trouxe seu texto para eu dar uma olhada, imediatamente
percebi que seria difícil (não impossível) alguém superá-la. Dei alguns
pitacos, sugeri algumas pequenas modificações e ela sabiamente me ouviu,
absorveu e colocou em prática. Sempre digo que a maior dificuldade é
fazer o aluno perceber que o que falamos é um ensinamento e não um
sermão. Que o que corrigimos deve ser absorvido, filtrado, raciocinado e
não descartado sem ao menos prestar atenção. Alguns alunos fazem isso e
aí está a resposta por ouvir mais do que falar: sucesso.
Corrigi todas as redações. Havia várias redações boas, ideias boas. Um
aluno levantou a questão da intolerância a glúten, outros trabalharam
com o foco em padarias e padeiros que ajudavam ao próximo. Alguns textos
traziam o PÃO como personagem em um mundo fictício ou lições sobre
compartilhar. Sim, muita coisa boa eu tinha nas mãos.
Mas, realmente, o texto da Rita era insuperável. Ela teve tato e soube
usar as palavras. Utilizou figuras de linguagem que eu havia trabalhado
no ano: " como um anjo", "pneu que saiu cantando" ; utilizou um nome
bíblico para fazer ligação com a bíblia e toda simbologia do pão: Davi.
Conseguiu aliar tudo isso a uma lição de cidadania que é o respeito
racial. FÓRMULA PERFEITA.
Entreguei a redação no último dia, fiz com que a Rita passasse a limpo
03 vezes para que ficasse certinho: "passse a limpo novamente, porque se
gostarem do seu texto não quero que seja desclassificada por um
borrão...". Justamente neste dia Jussara estava entupida de trabalho,
mas mesmo assim ela deu um jeitinho e levou a redação até o núcleo.
Lembro que disse: " Leva, Jussara, porque essa redação tem chance de
ganhar, ficou muito boa...". Ela levou e o resultado está aí.
A Rita ganhou um tablet e eu uma cesta de pães. Não estou satisfeita
com minha premiação material, mas a moral me enche de orgulho. Talvez
nas próximas edições do concurso eles pensem numa premiação condizente
ao professor e ao trabalho dele. Ganhamos (eu, Rita e pai da Rita)
transporte, hospedagem e alimentação para ir para Curitiba receber a
premiação e homenagem. Foi no Palácio Iguaçu, sede do governo. Estavam
presentes Flávio ARns (vice-governador e secretário da educação do PR),
Eliane Rocha (superintendente de educação) e o presidente do sindicato
dos confeiteiros do PR. O ambiente era maravilhoso, o palácio é
CHIQUÉRRIMO! Ficamos nos achando!!!!!
Valeu a pena! Agradeço a direção do colégio Ieda que na época sempre me
apoiou nas loucuras que eu inventava. Nunca recebi um não. É o melhor
incentivo que poderiam me dar.
Espero que a Rita nunca desanime de estudar, que crie oportunidades
para ampliar seu conhecimento e seja uma vencedora na vida, pois ela
merece muito.
Aos que aguentaram ler tudo isso, agradeço pela atenção.
Conto:
Ingrediente Mágico do Ser Humano
Era uma vez um menino chamado Davi, ele era um anjo de tanta bondade, tinha um coração enorme, ajudava seus pais em tudo e vivia a dizer:
- Quando crescer vou ser igual ao meu pai.
O único problema é que seus colegas o maltratavam pela cor de sua pele. Um certo dia, ele chegou para seu pai e pediu:
- Papai, por que sou diferente? Por que a cor da minha pele não é igual a de meus
coleguinhas? Isso me torna menos importante que eles?
Então seu pai o pegou no colo e falou:
- Filho, olhe o pão, existem pães com fermento, outros sem, pães com mel, outros com queijo, pães com sal, outros com açúcar... E assim como o pão, ninguém é igual a ninguém. Nós temos a pele escura, outras pessoas têm a pele clara, existem pessoas ruivas e loiras dos olhos verdes, azuis ou castanhos. Davi, você já pensou se todos fossem iguais? Já imaginou sair na rua e ver a mesma coisa que olhar no espelho? Porém, independente do peso, tamanho ou cor, os pães são muito importantes para a alimentação e saúde de todos e as pessoas são importantes para familiares, amigos, conhecidos, para todos que os amam independente de sua aparência.
Então ele saiu do colo do seu pai, pegou a bicicleta e saiu cantando, e foi para a escola. Ao chegar, foi falar com seus colegas, disse tudo o que seu pai havia falado. E desse dia em diante, ninguém mais o incomodou, pois todos são diferentes, porém dentro de todos, há um elemento surpresa, assim como todo pão tem uma receita ou um ingrediente mágico, todo ser humano tem um coração.