Toda a questão do incentivo à leitura é um problema para os professores de todas as disciplinas, mas principalmente para os professores de Língua Portuguesa.
Se cobramos com mais afinco, aplicando avaliações, seminários e afins; somos acusados de "matar" as obras, criar traumas, prejudicar o desenvolvimento do hábito dos alunos em geral.
Se somente incentivamos, observamos que não conseguimos fazer com que leiam na maior parte das vezes, por motivos diversos.
O que fazer?
Eu creio que um conjunto de fatores é responsável pelo desenvolvimento do hábito. Penso que a escola deva cobrar sim, inflexivelmente, a leitura de obras diversas de qualidade. Se os alunos não lerem na escola um Machado de Assis, um José de Alencar, lerão quando????
Em concomitância, o professor deve conhecer a obra, amá-la, exibi-la, discuti-la!
Já ouvi que inúmeros professores, inclusive de escolas privadas de renome, dizem e concordam orgulhosamente que tais obras são horríveis e devem ser encaradas apenas como etapas a serem cumpridas. Ouvi que os alunos devem fazer uso exclusivamente de resumos e análises, dispensando a leitura do objeto de estudo.
What?????? Isso é um massacre!
Costumo contar que li "Iracema" de José de Alencar 03 vezes em minha vida: 1ª Ensino Médio, não gostei e pouco entendi; 2ª Universidade, leitura morna e automática; 3ª Lecionando, li para fazer uma avaliação, CHOREI! Que linguagem linda! Que história maravilhosamente contada! Portanto, houve uma evolução, mas só ocorreu porque insisti! Só ocorreu porque coloquei em prática.
Quem fica reclamando dos clássicos nunca vai compreender a beleza e a riqueza de tais leituras.
Por último, a família deve incentivar em casa, mais que isso, deve COBRAR a leitura DIÁRIA em casa!
Se os pais não tomarem posse de seu papel de pais ativos que cobram, fiscalizam, orientam nunca poderão reclamar do resultado que seus filhos apresentarão no futuro.
Não é só AMAR, o amor não está apenas nos gestos de carinho e nas palavras de afeto, o amor está PRINCIPALMENTE nos cuidados diários, no tempo disponível para sentar junto e conversar, acompanhar o desenvolvimento de seus filhos.
Pais que permitem que seus filhos fiquem em frente à TV e JOGOS por longos períodos diários, desculpem-me, não estão fazendo a sua obrigação!
Para mim estes 03 fatores citados são fundamentais se quiser ter um filho leitor.
É necessário ter cuidado para que seu filho/aluno evolua. Pode começar pelo gibi, pelo livro de diagramação engraçadinha, pelo livrinho da moda, DEVE! Mas ele precisa ampliar horizontes, precisa partir para o próximo nível sempre! Costumo brincar que, se a cabeça não doer, a leitura não foi boa! hahaha
Enfim, toda esta introdução que nem sei se alguém vai ler ou dar crédito às minhas ideias foi feita para explicar como procedo em minhas aulas de leitura nas escolas.
Ouço muitas reclamações de inúmeros projetos de leitura que não dão o resultado esperado. Não digo que alcanço 100% de sucesso, mas fico muito satisfeita com minhas aulas de leitura. Como são?
Recentemente comprei um projetor, dinheiro suado, paguei em 12x hahahaha! Baixo a obra e leio para todos enquanto acompanham pelo projetor. Dependendo da obra, se tiver muitos diálogos, alguns alunos assumem personagens e auxiliam. MAS é muito importante que tais alunos tenham uma boa leitura porque ninguém merece ouvir uma leitura gaguejada ou sem emoção.
Lembrando que a aula de leitura não é o momento para treinar leitura em voz alta dos alunos, o objetivo é ler e se apaixonar, conhecer a obra, discutir, prazer, emoção....Treinar leitura fica para outro momento, então não se preocupem, escolham bons leitores ou matarão sua aula de leitura.
Com os 6ºs anos, nem solicito ajuda, euuuu leio! Leio com emoção, leio fazendo paradas e rindo, questionando as atitudes das personagens, leio fazendo perguntas e distribuindo pontinhos, pergunto o que eles acham de tal assunto, se concordam com a personagem, digo quando não entendi e questiono se alguém pode explicar o que entendeu....Não precisa ser uma aula chata! Mas a ordem é primordial, levantar a mão para falar, pois sem comportamento, não funciona! Sou muito rigorosa, sei disso, mas é assim que a carroça anda.
Em 2017, com os 6ºs anos, li "Alice no país das maravilhas" de Lewis Carroll, levei quase o ano todo para ler e não recomendo. Já conhecia a obra, mas me enganei quanto a escolha, pois é um livro, na minha opinião, mais para adultos do que para crianças. MARAVILHOSO, porém complexo. Mas vencemos!
Em uma aula líamos, e nos 15 minutos finais eles produziam os DIÁRIOS DE LEITURA.
O diário consiste em um resumo de no mínimo 08 linhas sobre o que entendeu da leitura do dia. PROIBIDO CÓPIA, mas poderiam fazer anotações durante a leitura, isso ajuda a tirar o sono, a apatia e os deixa mais espertos com a história em si. Ultimamente comecei a fazer perguntas surpresa, criava na hora, escolhia um desatento para responder. Caso acertasse, ganhava um pontinho bônus. Eles também deviam fazer uma ilustração, poderia ser pequena e não era obrigatório pintar, mas tinha que representar a leitura do dia. Talvez a parte mais significativa, ou a parte que mais gostaram, etc. No final do trimestre vistava os diários e passavam a valer a nota de uma avaliação: 10,0! Porém, no decorrer do processo passava olhando e carimbando ou vai acontecer de ter alunos que não fazem, se descobrir isso antes, poderá cobrar e remediar, mas se deixar tudo para o final, este aluno levará bomba! Então aquela olhadinha esperta e uma carimbadinha no caderno ajudam pra caramba!!!!
Com o 9º ano, em 2017, foi bastante produtivo, mas a dinâmica foi um pouco diferente.
Lemos, primeiramente, "Meu pé de laranja-lima" de José Mauro de Vasconcellos.
FOI UM SUCESSO! livro maravilhoso, se uma mosca passasse seria ouvida devido ao silêncio e atenção que obtive durante as leituras. Fui auxiliada por alguns alunos que assumiram alguns papéis, como o da personagem principal. No final foram muitas lágrimas rolando. Eles produziram diários de leitura, mas não foi solicitada a ilustração.
Seguidamente, lemos o auto "O santo e a porca" de Ariano Suassuna. Nesta leitura, por ser teatral, cada aluno assumiu uma personagem (acho importante o professor sempre ter um papel, pois é a nossa empolgação e entonação que ditará a empolgação do aluno!). Aqui, alguns, por estarem com ressaca depois da última leitura, perderam um pouco a atenção, mas foi muito bacana também. Sobre este livro, fiz prova. Se alguém quiser, envio a prova para que possa usá-la. Bem simples, só para ver se estavam atentos.
Por último, iniciamos a leitura de "Os meninos da Rua Paulo" de Ferenc Molnar, mas não conseguimos concluir. Estava colocando em prática outro método de avaliação: bonificação. Ao final da leitura, todos deveriam obrigatoriamente criar uma pergunta sobre a leitura do dia. A melhor pergunta, ou as melhores perguntas (ideia e elaboração) seriam usadas na prova. A pessoa que criou ficaria dispensada de respondê-la na prova, apenas ganharia a nota, uma vez que a criou. Porém o ano acabou e tive de cancelar.
Como exemplo, postarei alguns diários de alunas de 6º ano do São Cristóvão, feitos em outro ano. Não pensem que sempre terá produções tão caprichadas quanto as que postarei, sempre terá um pouco de tudo.
Considero esta metodologia muito boa e adequada, pretendo seguir aperfeiçoando e criando variações. Se algum aluno ler esta postagem, peço encarecidamente que deixe sua opinião sobre as aulas de leitura nos comentários do BLOG, para que fique de reflexão se foram boas ou ruins para mim e para os leitores, pode ser de forma anônima.
RESSALTO: DE NADA ADIANTA O PROFESSOR VOCIFERAR QUE OS ALUNOS NÃO LEEM, QUANDO ELE MESMO NÃO É UM LEITOR. A PAIXÃO PELO HÁBITO DEVE EXALAR DO MESTRE OU NUNCA CONVENCERÁ.
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Uau! Fantástico! Muito obrigada pelo plano de aula. Eu também adoro ler dramatizando. É por isso que os alunos nunca te esquecem, Dani. Parabéns!
ResponderExcluirQue legal que gostou! Amo a literatura! Obrigada.
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